Capítulo 3: Memórias Esquecidas, Memórias Relembradas!

O mundo estava mudado, o ferimento causado nele por causa da guerra ainda não havia sido cicatrizado. Cait era o nome de uma jovem maga, nova demais para ter presenciado os acontecimentos do passado, tampouco responsável por sequer uma das inúmeras mortes. Contudo, isso não a livrava do preconceito que os magos recebiam. Os poucos que restavam viviam escondidos, sob riscos de serem mortos pelo reino. Eram poucas as pessoas que não seguiam a crença, esses ainda usufruíam das vantagens que os magos ofereciam. Essa era a razão para a jovem estar indo até seu destino, uma missão.

Apesar de possuir uma magia lendária, não tinha total capacidade de usá-la, mas isso poderia ser resolvido com o tempo. A missão parecia simples, derrotar algumas criaturas selvagens que ameaçavam a plantação de um homem. Ela não era das mais fortes magas que ainda existiam, contudo era mais forte do que um humano qualquer. O velho não conseguia dar conta dos animais, ela podia. Bastava fazer isso para receber a sua recompensa. Suas lembranças do passado atormentavam-na, curioso já que era através de memórias que executava sua magias.

Caminhou por um longo tempo. A noite estrelada era bela, a lua cheia dava a impressão de que estava em plena tarde. A viagem era longa, a lua se foi, e o sol chegou. Finalmente chegou a uma pequena fazenda, era cerca de oito da manhã. O cenário não era agradável, a colheita estava totalmente perdida, pelo que tudo indicava os animais atacavam-na em busca de comida, e aos poucos nada restava. Cait notou um pequeno tumulto, cerca de três pessoas rodeava dois cadáveres, o primeiro era de um humano, e o outro de um animal. Não podia ver muito bem da distância em que estava, deveria aproximar-se mais e falar com as pessoas que ali estavam.

Logo que viu as pessoas, aproximou-se delas. Verificou a pulsação do morto, tudo indicava que ele estava morto já fazia algumas horas. Além disso, era praticamente impossível de alguém sobreviver após receber ferimentos daquele nível. Seu rosto estava coberto de sangue, ou melhor, o que restava dele. Um dos lados da face do homem havia sido arrancada, o causador daquilo era o lobo que estava morto ali perto. Não parecia ser um lobo qualquer, ele era grande, muito grande. Suas mandíbulas provavelmente não tiveram dificuldades em fazer aquilo com o homem. Uma perfuração em seu peito indicava a causa de sua morte, um tiro certeiro no peito.

Após fazer a pergunta, a mulher respondeu. Era uma mulher franzina de cabelos negros, deveria ter cerca de quarenta anos. Ao seu lado estavam dois garotos, seus filhos. Ambos eram mais novos do que Cait. — Quem é você? É a pessoa que ele dizia ser capaz de pôr fim aos animais? Pois bem, chegou um pouco tarde. Tarde para evitar essa tragédia. — Falou, enquanto enxugava algumas lágrimas que escorriam pelo rosto. — Ele cansou de esperar, então resolveu agir sozinho. Conseguiu abater um dos lobos com uma arma de fogo, contudo os outros mataram-no. Eu tentei impedi-lo, mas falhei nisso. Parte da culpa é minha, desculpe-me, George. — Virou as costas e correu na direção da casa.

O mais velho, que observava a conversa, chegou um pouco mais perto de Cait. — Precisa nos ajudar. Infelizmente chegou tarde demais para que pudesse manter meu pai vivo, mas ainda não é tarde para matar quem fez isso com ele. — Sua voz era calma, apesar de demonstrar a tristeza em seus olhos. Tinha por volta dos dezesseis anos. — Ainda temos o dinheiro para te pagar, faça isso por nós, e o pagamento será seu. — Apesar da perda da família, não era certo que a maga ligava para isso, o dinheiro seria seu caso fizesse o que pretendia desde o início.

Cait tinha tomado a sua decisão. Mataria as criaturas, traria sossego àquela família, e ganharia a sua recompensa. Na teoria parecia algo simples de se fazer, contudo isso poderia ser diferente na prática. Suas memórias do passado voltavam, o jovem que comunicava consigo lembrava-a alguém do passado. O passado naquele momento não interessava, o seu presente eram aqueles lobos. Logo que virou de costas para o garoto, pondo-se a caminhar, sentiu uma mão tocar o seu ombro. — Todas as noites os lobos vêm até aqui. Talvez prefira esperá-los. — Disse o garoto.

Era uma verdade, para que procurar os animais, entrando no território das bestas, se podia esperar ali? — Bem, a decisão é sua. Tá vendo aquela mata ali? — Apontou para um lugar repleto de altas árvores, dali não era possível ver o que havia lá dentro já que estava longe demais. — Lá é a moradia dos lobos. As folhas das árvores devem tapar boa parte da luz que o sol provê. Se quiser pode esperar aqui em casa até que os lobos decidam vir. — A escolha era de Cait, e de ninguém mais.